quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A IMAGEM TEIMOSA


Não conto o nome do santo nem da cidade, mas aconteceu num desses interiores do Brasil. Era 12 de Outubro, o padre viajara para a Europa e pediu que eu assumisse a missa da festa da paróquia, dedicada a Nossa Senhora Aparecida. Cheguei na manhã daquele dia; a missa seria a noite.
O sacristão combinou tudo comigo. Pensei que seria fácil. Não foi. Já contei a história, mas conto de novo. Cheguei para a celebração da missa e lá estava, no meio do altar, uma pequena estátua da padroeira. O pedestal à direita que deveria ser o lugar dela no pequeno andor estava vazio. Alguém a havia colocado no centro do altar.
Como primeira providencia peguei a imagem e a coloquei no andor, lado direito do altar. Fui para a sacristia. Lembrei-me que precisava preparar o missal. Voltei para buscá-lo. Lá estava, outra vez no centro do altar, bem de onde eu a tirara a imagem de Maria. Tornei a colocá-la no seu andor fora do altar, porque o lugar da imagem de Maria não é o altar. Ali é o lugar do filho dela. Se for evangelizado, não há católico que não saiba disso. Voltei para a sacristia.
Fiz a volta por fora do templo para entrar pelo saguão de entrada, em procissão. Quando entrava, percebi, de novo, a imagem de Nossa Senhora em cima do altar. Ou era milagre ou era artimanha de um teimoso devoto da mãe do Cristo. Eu sabia que não era o sacristão.
Ainda durante a procissão perguntei e fiquei sabendo que era a zeladora, festeira do dia, quem estava devolvendo a estátua ao seu lugar. Ela achava que era desrespeito pra com Maria tirá-la sua imagem do altar no dia da sua festa…
Então era isso! Quem era o padre visitante, para peitar a fé daquele povo? Quem eu achava que era? Só por ser um padre de televisão não tinha o direito de cantar de galo naquela freguesia! Aquela estátua ficaria no altar, porque o dia era da festa dela…
Antes de começar a missa segurei a pequena imagem e aproveitei para fazer uma catequese. Perguntei ao povo se o que aconteceria naquele altar seria a memória de Maria ou de Jesus e se na ultima ceia foi Nossa Senhora quem presidiu. Se fora Nossa Senhora quem morreu na cruz por nós ou se fora o filho dela.
O povo que tudo vira, rindo, respondeu que era Jesus. Perguntei se na comunhão recebemos Maria e o povo disse que não. Expliquei que Maria era a primeira adoradora, mas do lado de lá e não no centro do altar. Perguntei, então, se o lugar dela e da imagem era no altar ou no andor. Todos gritaram que era o andor. Pus a estátua de volta no andor.
De repente cinco senhoras saíram do banco da frente batendo os saltos pelo corredor. Abandonaram a celebração, contrariadas porque eu ousara enfrentá-las; Tinham três vezes enfrentado o presidente da assembléia, mas o padre não poderia fazer o mesmo. Afinal, as festeiras eram elas…
Fiquei sabendo que uma delas era a mulher do prefeito. E eu com isso? Podia ser mulher do presidente da República que mesmo assim eu teria que tirar aquela imagem do altar, porque o altar não é lugar para a imagem de Nossa Senhora, nem o tabernáculo. Se a gente não reage chegará o dia em que alguém tirará o cibório e o ostensório de dentro do tabernáculo para lá colocar uma imagem de Maria ou do santo do dia!
É isso que dá a falta de catequese. Se tivesse recebido a catequese apropriada e tivesse prestado atenção no que os padres dizem, a distinta senhora não teria jamais feito o que fez. Mas ela achava que, na festa de Nossa Senhora, Jesus tinha que ceder o altar para a mãe. E eu atrapalhara tudo; Por isso ela e suas companheiras foram embora da missa.
Quando soube do fato o pároco caiu na gargalhada e disse: – “Você enfrentou isso uma vez apenas, mas eu enfrento o ano inteiro. Convivo com isso no mínimo seis ou sete vezes por ano. Ela fica quietinha durante um período. Depois vem a síndrome da generala. Sendo filha e esposa de prefeitos e primeira dama no município sente-se também primeira dama no templo”.
Ensine-se ao menos três vezes por ano o que significa aquele altar! Não são poucos os católicos que vão ao templo por causa do padre ou da imagem. Poderiam ir por razões mais teológicas…
Pe. Zezinho scj

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