sábado, 25 de fevereiro de 2012

A arte de ficar calado


“Éramos muito jovens e não sabíamos ficar calados”. Clarice Lispector
Saber ficar calado. É uma arte. Difícil, exige esforço e experiência. Não digo ficar calado sozinho, pois aí não há muita vantagem. Se sairmos a divagar, em voz alta, as perturbações que nos vão nos pensamentos, não demora estamos divagando num hospício.

Também não falo sobre ficar calado em público. Já fui mais calado em público, hoje nem tanto. Sou até, às vezes, o menos calado. Curioso, isso. Eu achava que era um caso perdido de timidez crônica, de incompatibilidade absoluta com a palavra oral, e hoje me pego, eventualmente, para meu espanto, falante e loquaz.

Queria mesmo abordar a difícil arte de ficar calado a dois. É disso, em essência, que trata a bela frase em epígrafe. Os jovens – falo por mim, pelo que lembro – não sabem, definitivamente, ficar calados a dois. É um desconforto terrível, uma absurda e incômoda sensação de mal-estar, aliada a um desespero tolo em busca de assunto.

Depois, com o tempo, passamos a ser menos severos conosco, e nos permitimos, vez por outra, a falta de assunto. Aliás, que necessidade absurda é essa de falar por falar, sem parar? Escrevi, certa vez, uma frase, que depois li curioso: “demorei a perceber que são os calados que têm algo a dizer...”.

Não sei que poeta falou – creio que o Quintana – que amizade é quando o silêncio a dois não se torna incômodo, e amor quando o silêncio a dois torna-se prazeroso e íntimo. Algo assim, com outras palavras. Mas, no fundo, não é isso mesmo?

Felipe Peixoto Braga Netto

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