No dia a dia de minha vida, em meio aos afazeres rotineiros, ponho-me às
vezes a pensar no porquê de tanta coisa má acontecendo a nosso redor.
Mesmo quando nos dedicamos a tentar fazer o bem, a levar a palavra e os
ensinamentos do Divino Mestre a outras pessoas, a ajudar nosso próximo em
necessidade, deparamo-nos com a maldade em todas as suas formas: inveja,
calúnia, rancor e ate ódio.
E a resposta que me vem, à luz do Evangelho, das Sagradas Escrituras, do
Catecismo da Igreja Católica, dos escritos dos grandes santos é sempre a mesma:
a raiz de todo o mal é o orgulho. Orgulho que pode ser traduzido como amor
absoluto à própria pessoa, a seu próprio eu. Este amor próprio é que nos leva a
achar que tudo nos é devido, que tudo que é nosso, idéias, pensamento, vontade,
deve predominar sobre o que pertence ou é próprio dos outros. Isso é tão
inerente à natureza humana que o próprio Cristo, a Sabedoria Encarnada, nos diz
no Evangelho: Amai a Deus sobre todas as coisas e
ao próximo como a ti mesmo.
Mas aí entra o segredo do seguimento de Cristo: Amar a Deus tem que vir
antes de tudo, antes de qualquer outro amor, até mesmo do Amor Próprio. E como
isso é difícil! Mas como é fácil para o homem achar que seu ser é prioritário,
que tudo lhe é devido, ainda que não tenha consciência disso. Que seu trabalho
é sempre o melhor, que suas idéias são superiores e mais fundamentadas, suas
orientações precisam ser acatadas a qualquer custo. Então, diante de um
trabalho superior ao seu, do sucesso alcançado por outro, da riqueza, da beleza
ou do apreço que não lhe foi concedido, abre-se muitas vezes a porta para a
inveja, a cobiça, o desejo de desmerecer o que os outros conseguiram.
A humanidade foi levada à essa inclinação para o mal pelo pecado
original, quando, tentado por Satanás, o homem, criado por Deus em ligação
profunda com Ele, opõe-se a Deus, querendo ser igual a Ele. “E vós sereis como
deuses”(Gn 3,5). Neste pecado, além de deixar morrer em seu coração a confiança
em seu Criador, manifestada através da obediência, o homem preferiu a si mesmo
em lugar de Deus, e com isso menosprezou a Deus. Pela sedução do Diabo, quis
“ser como Deus”, mas “sem Deus e antepondo-se a Deus, e não segundo Deus”.
Por orgulho, abusou da liberdade concedida por Deus às pessoas criadas
para que possam amá-lo livremente e amar-se mutuamente. (Cf. Catecismo da
Igreja Católica, 385, 391).
Mas tudo isso foi corrigido através da Redenção de Nosso Senhor Jesus
Cristo. “ Assim como da falta de um só resultou a condenação de todos os
homens, do mesmo modo, da obra de justiça de um só (a de Cristo), resultou para
todos os homens justificação que trás a vida”(Rm 5,18).
A resposta, então, para vencermos nossa inclinação ao mal, ao orgulho, à
soberba, à inveja que destrói está em buscarmos, através da Misericórdia
Infinita de nosso Divino Mestre, pela oração constante, pela meditação em seus
ensinamentos, encher nosso coração com o amor a Deus acima de tudo, acima de
nós mesmos, e por amor a Deus, crescer no amor ao próximo. Só na imitação de
Cristo poderemos nos esquecer de nós mesmos, de nossa vaidade, de nossa
pretensão, de nossa soberba, que não passam, na verdade, de nossas misérias.
Só ao contemplarmos o doce Cristo na cruz, Deus onipotente sofrendo os
mais horrendos suplícios, as mais terríveis ofensas que um ser jamais sofreu,
causadas por nós mesmos, sofrendo tudo isso única e exclusivamente por amor a
esta triste humanidade, tendo só perdão e misericórdia em Seu Coração, é que
podemos colocar na devida perspectiva o que achamos que é feito a nós,
insignificantes criaturas.
Diante de tanta grandeza, de tanta sublimidade Daquele que nos remiu com
Sua vida, e de Quem esperamos o perdão, só nos resta seguir o Seu exemplo e os
Seus ensinamentos, perdoando a quem nos magoa, ofende, injuria. Colocando, pela
graça de Deus, a humildade em nossos corações, pela intercessão da mais humilde
e mais perfeita de todas as criaturas: Maria Santíssima.
Devemos ser, não "advogados do diabo” e sim, humildes e fiéis
instrumentos de Jesus.
A FAMÍLIA CATÓLICA
Nenhum comentário:
Postar um comentário